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Capítulo 4: III - As mulheres

Página 33
Nesse dia pôs-me o corpo negro, como este lenço que trago na cabeça. Olhai... Ainda tenho as marcas. Estás só na cova me passam. – Farta-te, se queres, mas não me desprezes... – Vai ele e disse-me: – Fica pra aí, estupor, que te não posso ver – Vejam vocês!... Se isto é assim no mundo, se a gente cá vem pra isto, para nos deitarem fora, e não há mais nada, era melhor morrer... E antes tivesse morrido pra não ter mais que penar...

– O hospital está à espera, raparigas – diz a patroa do canto.

– Ouvi dizer que os estudantes cortam a gente pra estudar?...

– E a mim que me importa?

– Eu já ouvi a um... E o que eles se riem uns com os outros!...

– Depois da morte a gente não sente.

– Quem é pobre acho que vai sempre pra eles aprenderem a estudar.

– Pois a mim é o que me entristece... O meu pobre corpo ser retalhadinho!

– Lá está o hospital à espera, raparigas!...

– Tu não te calarás!

Riem-se, uma fica cismática e a patroa continua:

– Filhas, ainda podeis enriquecer. O que é preciso é muita experiência da vida. Não há nada pior do que envelhecer pobre... O que eles se riem! E põem-se a rir até do nosso ódio, ouviram?

– Quem nasce pra esta vida mais valia morrer.

– E tu pra que vieste?

– Foi o meu fado.

E a velha continua:

– Haveis de querer comer e tereis...

– O quê – diz uma, ansiosa.

– Pedras.

– Acabou-se! – diz outra.

E fica cismática.

– Mais nos valia morrer.

– Mais valia.

– Andai, andai! Lá tendes todas no hospital uma enxerga e o lençol. E o cemitério pode sempre com gente.

Aquele nunca se farta.

– Tem sempre fome – murmura do lado uma sorrindo.

– Pois tem – afiança a companheira.

– Deixá-lo ter! – exclama a Mouca.

– Envelhecei pobres e vereis! vós vereis!.

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pág. 33 (Capítulo 4)

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Capa do livro Os Pobres
Páginas: 158
Página atual: 33

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Carta-Prefácio 1
I - O enxurro 18
II - O Gebo 23
III - As mulheres 28
IV - O Gabiru 35
V - História do Gebo 42
VI - Filosofia do Gabiru! 49
VII - Primavera 52
VIII - Memórias de Luísa 59
IX - Filosofia do Gabiru 63
X - História do Gebo 67
XI - Luísa e o morto 73
XII - Filosofia do Gabiru 77
XIII - Essa rapariguinha 81
XIV - O escárnio 87
XV – Fala 94
XVI - O que é a vida? 97
XVII - História do Gebo 109
XVIII - O Gabiru treslê 114
XIX - A Mouca 118
XX - A outra primavera 121
XXI - A Morte 126
XXII - A filosofia do Gabiru 130
XXIII - A Árvore 134
XXIV - O ladrão e a filha 139
XXV - Natal dos pobres 143
XXI - Aí têm os senhores a natureza! 154