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Capítulo 18: Capítulo 18

Página 167

— Afasta-te, mulher, que o teu amor me perdeu! — murmurou enfim. — Há entre nós um abismo: tu o abriste; eu precipitei-me nele. Um crime, só um crime, pode unir-nos…— Fez uma pausa e prosseguiu: — E porque não se cometerá ele? Talvez obtivéssemos perdão!... Perdão! Oh meu Deus, não o terias para o sacrílego... não! Afasta-te, Hermengarda. Diante de ti tens um desgraçado, um desgraçado que fizeste!

A donzela uniu as mãos lavada em lágrimas, e exclamou:

— Eurico! Eurico! enlouqueceste?... Por piedade, explica-me este horroroso mistério! Porque me repeles? que te fiz eu... eu que te amo, que sou tua, tua para sempre?!

Mas os olhos cintilantes do cavaleiro tinham amortecido: derribado na luta que travara com o destino, o seu combater de tantos anos terminava, finalmente. Um sorriso insensato substituiu-lhe no rosto as contracções habituais de melancolia. Afigurava-se-lhe que em roda dele balouçava a caverna, e a luz fumosa da tocha que ardia segura no braço de ferro cravado na pedra parecia-lhe faiscar em fitas cor de sangue. Esvaído, vacilante, assentou-se num fragmento da rocha e, estendendo a mão para Hermengarda, pegou de novo na dela e, com um sorriso indizível, continuou em voz submissa:

— Dez anos!... Sabes tu, Hermengarda, o que é passar dez anos amarrado ao próprio cadáver? Sabes tu o que são mil e mil noites consumidas a espreitar em horizonte ilimitado a estrela polar da esperança e, quando, no fim, os olhos cansados e gastos se vão cerrar na morte, ver essa estrela reluzir um instante e, depois, desfechar do céu nas profundezas do nada? Sabes o que é caminhar sobre silvados pelo caminho da vida e achar ao cabo, em vez do marco miliário onde o peregrino dê tréguas aos pés rasgados e sanguentos, a borda de um despenhadeiro, no qual é força precipitar- -se? Sabes o que isto é? É a minha triste história! Estrela momentânea que me iluminaste, caíste no abismo! Arbusto que me retiveste um instante, a minha mão desfalecida abandonou-te, e eu despenhei-me! Oh, quanto o meu fado foi negro!

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Capa do livro Eurico, o Presbítero
Páginas: 186
Página atual: 167

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 4
Capítulo 3 7
Capítulo 4 12
Capítulo 5 18
Capítulo 6 22
Capítulo 7 28
Capítulo 8 32
Capítulo 9 46
Capítulo 10 55
Capítulo 11 63
Capítulo 12 71
Capítulo 13 90
Capítulo 14 105
Capítulo 15 121
Capítulo 16 134
Capítulo 17 148
Capítulo 18 158
Capítulo 19 171
Capítulo 20 176