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Capítulo 8: Capítulo 8

Página 41

Mas aquele que te amou tanto; aquele que poria a vida para salvar a tua; que nunca teve contentamento ou mágoa que fosse para ti segredo, trataste-o com o mesmo desprezo com que, no teu nobre orgulho de desgraçado, trataste o resto do mundo; e do limiar do templo disseste-lhe, talvez, o mesmo adeus de ódio e despeito que disseste ao resto do género humano.

É nos dias em que se abre para a pátria uma longa carreira de desventuras, que tu surges, gardingo, como a lembrança querida dos formosos dias da nossa mocidade; é na véspera de uma luta em que se vai resolver se há-de ser livre ou serva a terra dos Godos; em que mil cogitações tristemente solenes me assaltam o espírito e me obrigam a não me afastar de Córdova, onde incessantemente trabalho por ajuntar os valentes companheiros de nossas glórias de outrora; é quando a voz do dever me tem como cativo, que dum ângulo da Bética me dizes: «Eu vivo!» Embora! Já que não me é dado buscar-te, serás tu que virás lançar-te nos braços do teu amigo.

Sim, gardingo! Hoje que o império é abalado nos seus fundamentos; que os pagãos de África ameaçam derribar a cruz erguida no cimo das nossas catedrais; hoje, tu despirás a estringe sacerdotal e cingirás de novo a deposta e esquecida espada. Em Córdova, onde se ajuntam já as tiufadias da Bética, Eurico achará bom número dos seus antigos guerreiros, e os mais ousados mancebos, que ora encetam a vida dos combates em defesa da pátria e da fé, aceitarão com júbilo para seu capitão o homem que deixou um nome que não morrerá enquanto durar a memória do desbarato dos vascónios e francos. Na ebriedade da glória que te espera, porventura, achará o teu pobre coração, despedaçado pelas paixões que aí passaram, o alívio e conforto que vejo teres buscado debalde nos braços de uma piedade austera, de uma vida de humildade e abnegação. Esta glória será tanto maior, quanto é certo que nunca o Império Godo se viu tão perto da sua última ruína, e que nunca foram postos a tão dura prova o esforço e a lealdade dos seus filhos.

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pág. 41 (Capítulo 8)

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Capa do livro Eurico, o Presbítero
Páginas: 186
Página atual: 41

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 4
Capítulo 3 7
Capítulo 4 12
Capítulo 5 18
Capítulo 6 22
Capítulo 7 28
Capítulo 8 32
Capítulo 9 46
Capítulo 10 55
Capítulo 11 63
Capítulo 12 71
Capítulo 13 90
Capítulo 14 105
Capítulo 15 121
Capítulo 16 134
Capítulo 17 148
Capítulo 18 158
Capítulo 19 171
Capítulo 20 176