As novas que me dás da traição do bispo de Híspalis são assaz graves; mas são necessárias a circunspecção e a prudência. Os teus ouvidos podem ter-te enganado. Se essa trama horrível existisse, estender-se-ia por toda a Espanha. Sabes que Opas é tio dos moços Sisebuto e Ebas, cujas pretensões à coroa são conhecidas, pretensões que os benefícios de Roderico ainda, por certo, lhes não fizeram esquecer. Diz-se que o rei dos Godos lhes confiará o mando de uma das alas do exército com que se encaminha à Bética. Este procedimento generoso obstaria a que rebentasse a conjuração. Não se trata agora de satisfazer ódios de parcialidades civis: trata-se de salvar o império. Fora mais que infâmia; não tem nome imolar a Espanha no altar de ambiciosa vingança. Não. Embora estejamos corruptos: o exemplo do conde de Septum não será entre nós seguido.
Vem, Eurico, para que reverdeçam os louros da tua glória. Ouves a voz da pátria? É ela que te brada: «Vem combater por salvar- me, tu, o mais valente dos meus filhos!»
DO PRESBÍTERO DE CARTEIA AO DUQUE DE CÓRDOVA
Eurico a Teodemiro, saúde!
Não alcançaste, duque de Córdova, quão fundo é o abismo cavado neste coração pela desventura. Não me queixo de ti; porque nem a ti, nem a ninguém é dado concebê-lo. Medes o meu espírito pelos afectos humanos; mas é porque não sabes como ele saiu depurado do crisol de padecer infernal.
Glória! Que me importa a mim a glória? Que posso fazer dessa riqueza, inútil como as outras riquezas?