Examina bem a consciência, e dize-me qual é para os corações puros e nobres o motivo imenso, irresistível das ambições de poder, de opulência, de renome? É um só — a mulher: é esse o termo final de todos os nossos sonhos, de todas as nossas esperanças, de todos os nossos desejos. Para o que encontrou na terra aquela que deve amar para sempre, aquela que é a realidade do tipo ideal que desde o berço trouxe estampado na alma, a mira das mais exaltadas paixões é a auréola celestial que cinge a fronte da virgem, ídolo das suas adorações. Para o que anda, por assim dizer, perdido nas solidões do mundo, porque ainda não descobriu a estrela polar da sua existência, o astro que há-de iluminar-lhe a noite do coração, como o Sol com os seus primeiros raios ilumina as trevas de um templo, para esse a mulher é uma ideia vaga e confusa, mas formosa e querida. Não a conhece, não sabe onde esteja a imagem visível da filha da sua imaginação, e, todavia, é para lhe pôr aos pés glória, poderio, riqueza, que ele cobiça tudo isso. Tirai do mundo a mulher, e a ambição desaparecerá de todas as almas generosas.
Realidade ou desejo incerto, o amor é o elemento primitivo da actividade interior; é a causa, o fim e o resumo de todos os afectos humanos.
Teodemiro, eu amei como ninguém, talvez, ainda amara. Este amor foi desprezado e ludibriado, e, depois, comprimido pelo desprezo e pelo ludíbrio no fundo do coração do teu pobre amigo. Sabes o que faz um amor imenso assim recalcado? Devora e consome o futuro e entenebrece para sempre o horizonte da vida. Nada há, depois disso, que possa restaurar o que ele tragou: nada que possa rasgar as trevas que ele estendeu. No mesmo sepulcro não há porvir de esperança, nem, porventura, luz de consolação; porque ao passamento do corpo precedeu a morte do espírito.