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Capítulo 8: Capítulo 8

Página 44

Não, eu não quero a glória inútil e ininteligível hoje para mim. Não, eu não quero o mando e o poderio, porque já não sei para o que eles prestam. Como o febricitante em dia ardente de Estio, que aspira a brisa da tarde, a qual não pode sará-lo, mas que lhe refrigera por momentos o ardor do sangue, assim eu ainda me deixo afagar pela ideia de me atirar ao maior fervor das batalhas pelejadas em nome da pátria. Esse delírio dos perigos; essa loucura que o cheiro de sangue produz é um respiradouro por onde resfolegará a indignação e a cólera entesourada por anos neste coração. Tiufado, seria constrangido a vigiar as acções dos outros, a usar do valor tranquilo que afronta imóvel a morte; mas que é tal valor para aquele a quem a vida serve só de martírio? Uma hipocrisia mais; mais um meio de enganar o mundo. E que tenho eu com o mundo para curar de enganá-lo?

Homem de paz — dir-me-ás tu — pela profissão do sacerdócio; tendo buscado o repouso à sombra eterna da Cruz, como é que desejas só o que nos combates há mais brutal, ignóbil e obscuro, o furor da matança, e recusas o que neles há mais nobre e puro, a inteligência com que um único indivíduo move milhares deles e lhes multiplica a força com a rapidez das ideias, com a sublimidade das concepções, com a robustez de uma vontade imutável? Homem de paz cingindo a espada do guerreiro, que outro mister deverá ser o teu?

Busquei, é verdade, o repouso e a paz no santuário de Deus! Dias e dias, passei-os orando com a fronte unida às lájeas do pavimento sagrado, esperando que da morada dos mortos surgisse para mim descanso e esquecimento; mas o sepulcro foi estéril. Noites e noites, vagueei-as pelas solidões: assentei-me ao luar sobre os penhascos dos promontórios, com os olhos cravados no céu ou errantes pela vastidão das águas, e onde todos acham lágrimas de consolo e de esperança eu não achei uma só, porque as minhas morriam apenas brotavam. O Senhor não me escutou as preces: não me aceitou a resignação. Este espírito, que tentava erguer-se nas asas da filosofia do Cristo para as alturas, despenhava-se de novo para o pélago medonho das recordações amargas.

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Capa do livro Eurico, o Presbítero
Páginas: 186
Página atual: 44

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 4
Capítulo 3 7
Capítulo 4 12
Capítulo 5 18
Capítulo 6 22
Capítulo 7 28
Capítulo 8 32
Capítulo 9 46
Capítulo 10 55
Capítulo 11 63
Capítulo 12 71
Capítulo 13 90
Capítulo 14 105
Capítulo 15 121
Capítulo 16 134
Capítulo 17 148
Capítulo 18 158
Capítulo 19 171
Capítulo 20 176