Neste momento, por uma das pontes já desertas lançadas na noite antecedente sobre o Chrysus soava um correr de cavalo à rédea solta. Alguns soldados que andavam mais perto da margem volveram para lá os olhos. Um cavaleiro de estranho aspecto era o que assim corria. Vinha todo coberto de negro: negros o elmo, a couraça e o saio; o próprio ginete murzelo: lança não a trazia. Pendia-lhe da direita da sela uma grossa maça ferrada de muitas puas, espécie de clava conhecida pelo nome de borda, e da esquerda a arma predilecta dos godos, a bipene dos francos, o destruidor franquisque. Subiu rápido a encosta donde Roderico atendia aos sucessos da batalha. Parou um momento e, olhando para um e outro lado, endireitou a carreira para o lugar em que flutuavam os pendões das tiufadias da Bética. Como um rochedo pendurado sobre as ribanceiras do mar, que, estalando, rola pelos despenhadeiros e, abrindo um abismo, se atura nas águas, assim o cavaleiro desconhecido, rompendo por entre os godos, precipitou-se para onde mais cerrado em redor de Teodemiro e Mugueiz fervia o pelejar.
Juliano tinha-se aproximado no entanto do esforçado duque de Córdova, que, ferido e obrigado a combater com o destro e feroz renegado, a custo se poderia defender dos golpes do conde, golpes que o ódio e a cólera dirigiam. Alguns cavaleiros da Bética voaram a socorrer Teodemiro; mas os árabes com que andavam travados tinham-nos seguido de perto e, rodeando Mugueiz, haviam tornado inútil o socorro dos cavaleiros cristãos. O apertado revolver das armas formava uma selva de ferros em volta dos dois capitães inimigos, através da qual debalde o conde de Septum buscara muitas vezes abrir caminho para ferir Teodemiro, até que finalmente, galgando por cima de um árabe derribado, pudera vibrar um golpe. O elmo do nobre godo restrugira, e o guerreiro vacilara. A última página da sua vida parecia escrita no livro dos destinos. Os dois adversários do duque de Córdova iam tingir de negro as que ainda lhe restavam em branco.