Roderico viu isto e exultou. O Sol inclinava-se para o ocaso, e o centro do exército árabe, onde se achava Táriq, estava firme; mas os clamores do triunfo, que já soavam na ala esquerda dos cristãos, começavam a espalhar a incerteza entre os soldados do profeta. Foi então que o rei dos Godos ordenou à sua ala direita descesse contra os bereberes e, dispersando-os, acometesse os esquadrões de Táriq, que pareciam haver lançado raízes no solo ensanguentado do campo da batalha.
Um quingentário partiu à rédea solta para levar a ordem fatal aos filhos de Vitiza. À frente dos seus soldados os dois irmãos falavam a sós com Opas e contemplavam o combate. Apenas ouviram o que se lhes ordenava, Sisebuto e Ebas, voltando-se para os esquadrões que lhes obedeciam, clamaram:
— Vingança!
Este brado foi repetido por Opas e pelos nobres que o seguiam. Então, no meio daquela espessa selva de lanças repercutiu um grito que respondia ao dos capitães:
— Glória ao rei Sisebuto! Morte ao traidor Roderico! E os filhos de Vitiza e o hipócrita bispo de Híspalis, com as lanças aprumadas e as espadas na bainha, lançaram-se pelo vale abaixo, e a mor parte dos esquadrões seguiram-nos. Apenas Pelágio, duque de Cantábria, ficou imóvel à frente dos selvagens vascónios e dalgumas tiufadias da Galécia e da Narbonense que, alheias à traição daqueles mal-aventurados, recusaram segui-los.
Roderico viu enovelarem-se nos ares os rolos de pó que se alevantavam sob os pés dos ginetes: