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Capítulo 11: Capítulo 11

Página 65

Muitos ginetes vagueavam sem donos; muitos cavaleiros combatiam a pé. Desgraçado do que, ferido, caía em terra; porque para ele não havia misericórdia: o punhal acabava o que o franquisque ou a cimitarra começara. Dir-se- -ia que os regatos de sangue, serpeando por entre as duas hastes enredadas e salpicando as frontes e corpos, eram as veias descarnadas e rotas daquele grande vulto, coleando na derradeira agonia.

O cavaleiro negro, ao cessar a batalha do dia antecedente, desaparecera do campo, sem que ninguém soubesse dizer como ou onde se escondera. Só Teodemiro parecia não o ignorar; porque, ao falarem do desconhecido e das suas quase incríveis façanhas, os tiufados e quingentários que em volta dele esperavam o romper da manhã e o recomeçar da peleja, o duque de Córdova buscara sempre mudar de conversação ou respondera, carregando-se-lhe o semblante de tristeza: «É, porventura, algum desgraçado que procura o repouso da morte, e para o homem que resolveu morrer, que feito de valor será impossível? Se ele não quer deixar na terra nem o eco vão de um nome glorioso, respeitai-lhe os desejos, porque profundo deve ser o abismo da sua desventura.»

Ao som, porém, das trombetas que anunciavam o renovar do combate, o cavaleiro negro não tardara a aparecer onde mais acesa andava a briga. Via-se, contudo, que era principalmente nas fileiras dos árabes, onde as puas agudas e cortadoras da sua temerosa borda ou maça de armas faziam maiores estragos. Mas, quando algum dos godos trânsfugas ousava esperar-lhe os golpes ou tentava feri-lo, ouvia-se-lhe um rugido como o de maldição preso na garganta por cólera imensa, e o seu miserável contrário não tardava a golfar o sangue na terra da pátria que traíra e a entregar aos demónios a alma tisnada pela infâmia da perfídia. Os árabes supersticiosos quase criam ver nele Íblis, o rei infernal do Geena, armado da espada percuciente, solto por Deus para os punir das ofensas cometidas contra o divino Corão. Diante dele recuavam os mais esforçados muçulmanos, e só de longe os frecheiros lhe disparavam alguns tiros, que se lhe empenavam no escudo ou, roçando por este, vinham bater-lhe na armadura, debaixo da qual manava já o sangue de algumas feridas, e os membros lassos começavam a desmentir a impetuosidade do espírito.

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Capa do livro Eurico, o Presbítero
Páginas: 186
Página atual: 65

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 4
Capítulo 3 7
Capítulo 4 12
Capítulo 5 18
Capítulo 6 22
Capítulo 7 28
Capítulo 8 32
Capítulo 9 46
Capítulo 10 55
Capítulo 11 63
Capítulo 12 71
Capítulo 13 90
Capítulo 14 105
Capítulo 15 121
Capítulo 16 134
Capítulo 17 148
Capítulo 18 158
Capítulo 19 171
Capítulo 20 176