A Origem das Espécies - Cap. 5: CAPÍTULO IV
SELECÇÃO NATURAL Pág. 104 / 524

demasiado ligeiro para que o possamos apreciar, pode ser proveitoso a uma abelha ou outro insecto, de modo que um indivíduo assim caracterizado seria capaz de obter o seu alimento mais rapidamente, tendo assim mais hipóteses de sobreviver e deixar descendentes. Os seus descendentes herdariam provavelmente a tendência para um semelhante desvio ligeiro de estrutura. Os tubos das coro las nos trevos vermelhos e encarnados comuns (trifolium pratense e incarnatum) não parecem à primeira vista diferir em comprimento; porém, a abelha comum pode facilmente sugar o néctar do trevo encarnado, mas não do trevo vermelho comum, que é visitado apenas por zângãos; pelo que vastos campos de trevo vermelho oferecem em vão uma reserva abundante de precioso néctar à abelha comum. Assim, pode ser uma grande vantagem para a abelha comum ter uma probóscide ligeiramente maior ou com uma estrutura diferente. Por outro lado, descobri experimentalmente que a fertilidade do trevo depende em grande medida de as abelhas o visitarem e deslocarem partes da corola, de maneira a empurrar o pólen para a superfície estigmática. Pelo que, mais uma vez, se os zângãos se tornassem raros em qualquer região, poderia ser uma grande vantagem para o trevo vermelho ter um tubo da corola mais curto ou mais acentuadamente dividido, de modo que a abelha comum pudesse visitar as suas flores. Portanto, consigo compreender como uma flor e uma abelha poderiam lentamente, simultânea ou sucessivamente, modificar-se e adaptar-se uma à outra de uma maneira tão perfeita quanto possível, pela preservação contínua dos indivíduos que apresentam desvios de estrutura mútuos e ligeiros.

Estou bem ciente de que esta doutrina da selecção natural, ilustrada nos exemplos imaginários





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