A Origem das Espécies - Cap. 5: CAPÍTULO IV
SELECÇÃO NATURAL Pág. 110 / 524

Hooker classificou a meu pedido as árvores da Nova Zelândia e o Dr. Asa Gray as dos Estados Unidos, sendo o resultado tal como o antecipara. Por outro lado, o Dr. Hooker informou-me recentemente da sua opinião de que a regra não se aplica na Austrália; e fiz estas poucas observações acerca dos sexos das árvores simplesmente para chamar a atenção para o assunto.

Passando momentaneamente para os animais: em terra há alguns hermafroditas, como os moluscos terrestres e as minhocas; mas todos estes acasalam. Até agora não encontrei um único exemplo de animal terrestre que se autofertilize. Podemos compreender este facto notável, que proporciona um contraste tão acentuado com as plantas terrestres, com base na perspectiva de que um cruzamento ocasional é indispensável, considerando o meio em que os animais terrestres vivem e a natureza do elemento fertilizador; pois desconhecemos quaisquer meios, análogos à acção dos insectos e do vento no caso das plantas, pelos quais um cruzamento ocasional se pode efectuar em animais terrestres, sem a cooperação de dois indivíduos. Entre os animais aquáticos há muitos hermafroditas autofertilizantes; mas aí as correntes aquáticas oferecem um meio óbvio para um cruzamento ocasional. E, como no caso das flores, não tive até agora êxito, após consultar uma das maiores autoridades, nomeadamente, o Professor Huxley, em descobrir um único caso de um animal hermafrodita com os órgãos reprodutivos tão perfeitamente enclausurados no corpo que se possa mostrar que o acesso a partir do exterior e a influência ocasional de um indivíduo distinto são fisicamente impossíveis. Há muito que os cirrípedes me parecem constituir um caso de muito maior dificuldade sob este ponto de vista; mas foi-me permitido, por um acaso feliz, provar alhures que, ocasionalmente, mesmo dois indivíduos que são ambos hermafroditas autofertilizantes se cruzam.