A Origem das Espécies - Cap. 5: CAPÍTULO IV
SELECÇÃO NATURAL Pág. 111 / 524

A muitos naturalistas deve ter parecido uma estranha anomalia que, nas plantas como nos animais, as espécies da mesma família e até do mesmo género, embora muito próximas no que diz respeito à quase totalidade da sua constituição, frequentemente algumas sejam hermafroditas e outras unissexuais. Mas se, na verdade, todos os hermafroditas entrecruzam ocasionalmente com outros indivíduos, a diferença entre as espécies hermafroditas e as unissexuais, no que diz respeito à função, torna-se muito pequena.

A partir destas diversas considerações e dos muitos factos especiais que coligi, mas que aqui não posso apresentar, inclino-me fortemente para a suspeita de que, no reino vegetal como no animal, o entrecruzamento ocasional de indivíduos distintos é uma lei da natureza. Estou bem ciente de que há, nesta perspectiva, muitos casos difíceis, alguns dos quais procuro investigar. Podemos então concluir, por fim, que em muitos seres orgânicos, um cruzamento entre dois indivíduos é uma necessidade óbvia para cada nascimento; em muitos outros isto ocorre talvez apenas em intervalos longos; mas suspeito de que em nenhum deles a autofertilização pode continuar perpetuamente.

Circunstâncias favoráveis à selecção natural. - Trata-se de um assunto extremamente complexo. É-lhe favorável uma grande quantidade de variabilidade hereditável e diversificada, mas creio que as meras diferenças individuais dão conta do recado. Um grande número de indivíduos, havendo maior probabilidade de surgirem variações benéficas num dado período, compensará uma menor quantidade de variabilidade em cada indivíduo, e creio que isto é um elemento de êxito extremamente importante. Ainda que a natureza conceda vastos períodos de tempo para que a selecção





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