A Origem das Espécies - Cap. 7: CAPÍTULO VI
DIFICULDADES ENFRENTADAS PELA TEORIA Pág. 205 / 524

Dois órgãos distintos por vezes realizam simultaneamente a mesma função no mesmo indivíduo; para dar um exemplo, há peixes com guelras ou brânquias que respiram o ar dissolvido na água, ao mesmo tempo que respiram o ar livre nas suas bexigas-natatórias, sendo este último órgão munido de um ductus pneumaticus para o seu abastecimento, dividindo-se em partições vasculares. Nestes casos, um dos dois órgãos poder-se-ia modificar e aperfeiçoar facilmente, de maneira a realizar por si todo o trabalho, sendo auxiliado durante o processo de modificação pelo outro órgão; e então estoutro órgão poderia ser modificado para outra finalidade completamente distinta, ou poderia ser completamente eliminado.

A ilustração da bexiga-natatória nos peixes é uma boa ilustração, porque nos mostra claramente o facto muitíssimo importante de que um órgão originalmente construído para uma finalidade, isto é, a flutuação, pode ser convertido noutro órgão para uma finalidade inteiramente diferente, isto é, a respiração. A bexiga-natatória foi, além disso, integrada como um acessório aos órgãos auditivos de certos peixes, ou, pois não sei que perspectiva é hoje geralmente aceite, uma parte do mecanismo auditivo foi integrada como complemento da bexiga-natatória. Todos os fisiólogos admitem que a bexiga-natatória é homóloga, ou «idealmente similar», em posição e estrutura, aos pulmões dos animais vertebrados superiores, pelo que me parece não haver grande dificuldade em acreditar que a selecção natural converteu efectivamente uma bexiga-natatória num pulmão, ou num órgão exclusivamente usado para respirar.

Na verdade, dificilmente poderei duvidar de que todos os animais vertebrados que têm pulmões genuínos descendem por geração comum de um protótipo antigo; do qual nada sabemos, munido de um mecanismo de flutuação ou bexiga-natatória.





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