Podemos compreender, pela tendência contínua para a divergência de carácter, por que razão quanto mais antiga é uma forma, mais geralmente difere das formas que hoje vivem. Por que razão formas antigas e extintas tendem frequentemente a preencher lacunas entre formas existentes, por vezes misturando dois grupos, anteriormente classificados como distintos, num só; mas, mais comummente, apenas aproximando-as um pouco mais. Quanto mais antiga uma forma é, mais frequentemente, ao que parece, exibe os caracteres em maior ou menor grau intermédios a grupos hoje distintos; pois quanto mais antiga uma forma é, mais íntimo será o seu parentesco e, consequentemente, a sua semelhança com o progenitor comum dos grupos, que desde então se tornaram muito divergentes. Raramente as formas extintas são directamente intermédias a formas existentes; mas são intermédias apenas por um percurso longo e sinuoso, através de muitas formas extintas e muito diferentes. Podemos ver claramente por que razão os vestígios orgânicos de formações rigorosamente consecutivas são mais intimamente próximos entre si do que os de formações remotas; pois a interligação das formas é mais próxima por geração: podemos ver claramente por que razão os vestígios de uma formação intermédia são intermédios em carácter.
Os habitantes de cada período sucessivo na história do mundo venceram os seus predecessores na competição pela vida e são, neste aspecto, superiores na escala da natureza; e isto pode explicar o sentimento vago mas indefinido de muitos paleontólogos de que a organização no seu todo progrediu. Se no futuro se provasse que os animais antigos se assemelham em certa medida aos embriões de animais mais recentes da mesma classe, o facto seria inteligível. A sucessão dos mesmos tipos de estrutura nas mesmas áreas durante os períodos geológicos mais recentes deixa de ser misteriosa e é simplesmente explicada por hereditariedade.