A Origem das Espécies - Cap. 12: CAPÍTULO XI DISTRIBUIÇÃO GEOGRÁFICA Pág. 380 / 524
Sem dúvida que ocorrem muitos casos em que não conseguimos explicar de que modo a mesma espécie poderia ter passado de um ponto para o outro. Mas as mudanças geográficas e climáticas, que certamente ocorreram em períodos geológicos recentes, têm de ter interrompido ou tornado descontínua a distribuição anteriormente contínua de muitas espécies. Pelo que estamos reduzidos a considerar se as excepções à continuidade da distribuição são tão numerosas e de uma natureza tão grave que devíamos abandonar a crença, plausível segundo considerações gerais, de que cada espécie se produziu numa só área e que migrou a partir desse lugar para tão longe quanto foi capaz. Seria irremediavelmente entediante discutir todos os casos excepcionais das mesmas espécies que hoje vivem em pontos distantes e isolados; tão-pouco finjo por um só momento que se poderia apresentar qualquer explicação de muitos casos semelhantes. Mas, depois de algumas observações preliminares, discutirei algumas das mais impressionantes classes de factos; nomeadamente, a existência da mesma espécie nos cumes de cordilheiras distantes e em pontos distantes nas regiões árcticas e antárcticas; e, em segundo lugar (no capítulo seguinte), a distribuição ampla de produções de água doce; em terceiro lugar, a ocorrência das mesmas espécies terrestres em ilhas e no continente, embora separadas por centenas de milhas de mar aberto. Se a existência da mesma espécie em pontos distantes e isolados da superfície terrestre pode, em diversas circunstâncias, ser explicada pela perspectiva de que cada espécie migrou a partir de um único local de origem, então, considerando a nossa ignorância a respeito das mudanças climáticas e geográficas anteriores e vários meios ocasionais de transporte, a crença de que esta lei tem aplicação universal parece-me incomparavelmente mais segura.