A Origem das Espécies - Cap. 14: CAPÍTULO XIII
AFINIDADES MÚTUAS DOS SERES ORGÂNICOS. MORFOLOGIA. EMBRIOLOGIA. ÓRGÂOS RUDIMENTARES. Pág. 473 / 524

e não se podem alimentar: a sua função nesta etapa é procurar através dos seus bem desenvolvidos órgãos sensoriais e alcançar os seus poderes activos de natação, um lugar apropriado onde se fixar e sofrer a sua metamorfose final. Quando isto está completo, permanecem inalteradas para a vida: as suas pernas estão agora convertidas em órgãos preênseis; mais uma vez, adquirem uma boca bem construída; mas não têm antenas e os seus dois olhos estão agora reconvertidos num só ocelo, diminuto e muito simples. Neste último estado completo, os cirrípedes podem ser considerados ou superior ou inferiormente organizados relativamente à sua condição larvar. Mas em alguns géneros as larvas desenvolvem-se, tornando-se ou hermafroditas com a estrutura comum, ou aquilo a que chamei «machos complementares»: e, nos últimos, o desenvolvimento foi seguramente retrógrado; pois o macho é um mero saco, que vive por pouco tempo e é destituído de boca, estômago, ou outro órgão importante, excepto para a reprodução.

Estamos tão habituados a ver diferenças de estrutura entre o embrião e o adulto, e também uma semelhança íntima nos embriões de animais bastante diferentes na mesma classe, que poderíamos ser levados a olhar para estes factos como necessariamente contingentes, de alguma maneira, sobre o crescimento. Mas não há uma razão óbvia pela qual, por exemplo, a asa de um morcego ou a barbatana de um roaz não tivessem sido esboçados com todas as partes na proporção correcta, assim que qualquer estrutura se tornasse visível no embrião. E, em alguns grupos inteiros, o embrião não difere muito do adulto em qualquer período: assim, Owen observou-a respeito da lula, «não há metamorfose; o carácter cefalópode manifesta-se muito antes de as partes do embrião estarem completas»; e mais uma vez nas aranhas, «nada há que mereça a designação de metamorfose».





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