Quer dizer, ficamos duplamente conscientes da sua divindade: aquilo que é, e se move, é duplamente divino. Cada coisa é uma «coisa», e cada «coisa» actua provocando um efeito. O universo é uma grande e complexa actividade de coisas que existem, se movem e provocam um efeito. E tudo isto é deus.
Hoje, quase nos é impossível admitir aquilo que os antigos Gregos entendiam por deus ou theos. Cada coisa era theos; embora o não fosse, apesar disso, ao mesmo tempo. Tudo quanto chamasse a nossa atenção era, nesse momento, deus. Tratando-se de um charco de água, se esse charco genuinamente aquoso chamasse a nossa atenção é porque era deus; ou, se um vapor ténue se levantasse à tardinha e nos falasse à imaginação, é porque era theos; ou, se a sede nos assaltasse ao vermos água, é porque a própria sede era deus; ou, se bebêssemos, essa deliciosa e indescritível sensação de matar a sede era deus; ou, se ao tocarmos em água sentíssemos subitamente o seu gelado frescor, um outro deus nasceria chamado «o frio» que não era uma qualidade mas uma entidade existente, quase um ser, com certeza um theos, o frio; ou se uma coisa qualquer, o «húmido», nos pousasse nos lábios secos, também era um deus.