DEZASSEIS A mulher é um dos «prodígios». E o outro prodígio é o Dragão. O dragão é um dos mais velhos símbolos da consciência humana. O símbolo do dragão e da serpente tão profundamente atingem a consciência humana, que um simples ruído na erva pode fazer o mais empedernido dos «modernos» sobressaltar-se com profundidades onde não tem nenhum domínio:
Para começar, o dragão é símbolo do fluido, rápido e espantoso movimento da vida dentro de nós. Vida em sobressalto que nos percorre como uma serpente; ou que se enrosca dentro de nós como uma serpente, cheio de força e a espreita; o dragão e isto. E com o cosmo passa-se o mesmo.
Desde os mais antigos tempos o homem teve consciência de um «poder» ou força dentro de si - e também fora de si - que não dominava por completo. É uma força fluida e ondulante que pode permanecer muito sonolenta, adormecida, no entanto pronta a dar um inesperado salto. São assim as raivas súbitas que irrompem, chegadas do mais fundo de nós mesmos, arrebatadoras e terríveis nas pessoas dadas a paixões; e os súbitos acessos de desejo violento, de bravio desejo sexual ou intensa fome, ou de um grande desejo de qualquer género, mesmo de dormir. A fome que fez Esaú vender o direito de primogénito, podemos chamar o seu dragão; mais tarde, os Gregos chegariam mesmo a chamar-lhe um «deus» dentro dele.