VINTE E DOIS Quando chegamos à segunda metade da Revelação, depois de a criança recém-nascida ser arrebatada pelo céu e a mulher fugir para o deserto, há uma mudança súbita e sentimos que estamos a ler um Apocalipse puramente judaico e judaico-cristão, sem nenhum pano de fundo primitivo.
«Então houve no céu uma grande batalha: Miguel e os seus anjos pelejavam contra o dragão.» Expulsam o dragão do céu para a terra, ele transforma-se em Satanás e deixa totalmente de interessar. Quando as grandes figuras da mitologia se transformam em forças racionalizadas ou apenas morais, perdem o interesse. Ficamos entediados ao máximo com uma Afrodite «racionalizada». Pouco depois do ano 1000 a. c., o mundo fez-se um tanto demente com morais e com «pecados». Quanto aos Judeus, sempre tinham tido esse defeito.
O que procurámos no Apocalipse foi qualquer coisa mais antiga, mais grandiosa do que essa história da ética. O velho e incandescente amor à vida, e o estranho arrepio que a presença dos invisíveis mortos nos causa é que davam ritmo às religiões realmente antigas. A religião moral é relativamente moderna, mesmo entre os Judeus.
Contudo, a segunda metade do Apocalipse é toda ela moral; quer. dizer, é toda ela pecado e salvação.