Havia um pedaço de tapete no soalho, um ou dois quadros na parede, e uma poltrona funda, mal conservada, junto à lareira.
Um carrilhão antigo, com mostrador de doze horas, tiquetaqueava na escarpa. Sob a janela, ocupando quase a quarta parte do quarto, uma cama enorme, de casal, ainda com o colchão.
- Usei o quarto até minha mulher morrer - disse o velho, em tom de meia desculpa. - Estou -vendendo a mobília aos pouquinhos. Essa cama de mogno é linda, ou seria, se fosse possível livrá-la dos percevejos. Creio porém que o senhor julga um pouco sem jeito.
Levantou o lampião, para iluminar todo o quarto, e sob luz morna e amarelada, o lugar parecia curiosamente convidativo. Pela cabeça de Winston perpassou a ideia de que seria facílimo alugar o quarto por alguns dólares semanais, se tivesse coragem de se arriscar. Era uma ideia louca, impossível, a ser abandonada imediatamente. Mas o quarto despertara nele uma espécie de nostalgia, de saudade ancestral. Parecia-lhe saber exatamente que impressão dava sentar-se num quarto assim, numa poltrona ao pé do fogo, com os pés na guarda e a chaleira no gancho: completamente só, em completa segurança, sem ninguém a fitá-lo, sem voz a persegui-lo, sem ruido algum além do tiquetaque do relógio e o chilrear da chaleira.
- Não há teletela! - murmurou, embevecido.
- Nunca tive dinheiro para comprar uma - disse o velho. - E não sinto falta. Ali tenho uma bonita mesa de abrir, naquele canto. Só que se o senhor quiser usá-la tem de trocar as dobradiças.
No outro canto havia uma pequena estante de livros e Winston já se encaminhara para ela. Só continha porcaria. A busca e destruição de livros fora realizada no bairro dos proles com o mesmo método que nos outros.