1984 - Cap. 9: Capítulo IX Pág. 117 / 309

Não era seguro aproximar-se enquanto não se acumulasse mais gente. Havia teletelas por toda parte. Naquele momento, porém, elevou-se da esquerda uma gritaria, acompanhada do barulho de veículos pesados. De repente, todo mundo pareceu convergir para um só ponto. A moça deu volta em torno dos leões, na base do monumento, e juntou-se à massa. Winston seguiu-a. Enquanto corria percebeu, por uns gritos, que estava passando um comboio de prisioneiros eurasianos.

Já uma quantidade considerável de pessoas bloqueava o lado sul da praça. Winston, que em circunstâncias normais gravitava para a periferia de qualquer aglomeração, empurrou, acotovelou, esgueirou-se, tentando alcançar o meio do povaréu. Dali a pouco estava a um braço de distância da moça, mas de permeio havia um enorme prole e uma mulher quase tão vasta, sua esposa certamente, e formavam impenetrável muralha de carne. Winston forcejou de lado e com um violento empurrão conseguiu meter o ombro entre os dois. Por um momento teve a impressão de que iam esmagar suas entranhas com as ancas musculosas, mas por fim passou, suando um pouco. Estava ao lado dela. Os ombros se tocavam, e ambos fixavam um ponto qualquer, no meio da rua.

Uma longa fila de camiões, com guardas de cara de pau, armados de metralhadoras de mão, e postados em cada canto, ia passando lentamente. Nos camiões iam de cócoras, muito apertados, uns soldadinhos amarelos, metidos em esfarrapados uniformes verdoengos. As tristes caras mongólicas olhavam para fora, sem a menor curiosidade. De vez em quando, os camiões davam um tranco e se ouvia o tilintar de metais: todos os prisioneiros usavam grilhões. Passaram muitos camiões atulhados de caras tristes. Winston sabia que estavam passando, mas só os via intermitentemente.





Os capítulos deste livro