Quando Winston a seguiu, achou-se numa clareira natural, um pequeno recôndito atapetado de relva e completamente cercado de altos freixos novos, como uma parede. A moça parou e voltou-se.
-Aqui estamos, - anunciou. Os dois se entreolharam, a vários passos de distância. Winston ainda não tivera coragem de se aproximar.
- Não quis dizer nada na alameda - continuou ela - porque podia ser que houvesse um micro escondido. Não creio que haja, mas pode haver. E aqueles suínos são bem capazes de reconhecer a voz da gente. Aqui não há perigo.
Ele continuou sem coragem de se aproximar.
- Não há perigo? - indagou, estupidamente.
- Não. Olha as árvores. - Eram freixos pequenos, que tinham sido podados e haviam brotado de novo, formando uma floresta de ramos, nenhum dos quais mais grosso que um punho. - Não há lugar para se esconder um micro. E eu já estive aqui antes.
Estavam apenas a conversar. Winston conseguira chegar-se um pouco. Ela estava parada diante dele, muito tesa, tendo nos lábios um sorriso que parecia irônico, como se admirada de que levasse tanto tempo para agir. As campânulas tinham caído ao chão, em cascata. Pareciam ter caído por si próprias. Ele segurou-lhe a mão.
- Acreditas - disse - que até agora não sabia a cor dos teus olhos? - Eram castanhos, notou, um castanho bastante claro, com cílios escuros. - Agora que viste realmente como sou, ainda aguentas olhar para mim?
- Facilmente.
- Tenho trinta e nove anos. Tenho uma esposa de que não me posso livrar. Tenho varizes. E cinco dentes postiços.
- Pouco me importa.
No momento seguinte, ela estava nos seus braços, sem que fosse possível dizer por iniciativa de quem. No começo não sentiu senão a mais completa incredulidade.