A nova toada que seria prefixo musical da Semana do ódio (Canção do Ódio, era o seu título) já fora composta e era tocada incessantemente nas teletelas. Tinha um ritmo selvagem, de latido, que não podia exatamente ser chamado de música, e parecia o rufar de um tambor. Entoada por centenas de vozes, ao som de passos em marcha, era aterrorizante. Os proles a haviam adotado e nas ruas, à noite, competia com a sempre popular "Foi apenas uma fantasia desesperada". Os filhos dos Parsons a tocavam, a qualquer hora da noite ou do dia, com um pente e um pedaço de papel higiênico. As noites de Winston estavam mais ocupadas que nunca. Bandos de voluntários, organizados por Parsons, preparavam a rua, para a Semana, cosendo bandeiras e faixas, pintando cartazes, fixando paus de bandeira nos telhados e arriscando o pescoço para esticar fios através da rua, para suster as faixas. Parsons gabava-se de que só a Mansão Vitória exibiria quatrocentos metros de fita agaloada. Sentia-se no seu elemento e andava alegre que só um periquito.
O calor e o trabalho manual lhe haviam dado pretexto para usar shorts e camisa aberta. Andava por toda parte, empurrando, puxando, serrando, martelando, improvisando, alegrando todo mundo, incitando os camaradas com exortações e soltando, de cada dobra do corpo, uma nuvem inesgotável de cheiro acre de suor.
De repente, aparecera por toda Londres um novo cartaz. Não tinha legenda, e representava simplesmente a monstruosa figura de um soldado eurasiano, de três ou quatro metros de altura, avançando com enormes botas e uma cara mongólica sem expressão, apontando uma metralhadora portátil apoiada no quadril. De onde quer que se olhasse o cartaz, o cano da metralhadora, ampliado pela perspetiva, parecia apontar para a gente.