O cartaz enchera todos os espaços livres, tornando-se mais numeroso do que os retratos do Grande Irmão. Os proles, normalmente apáticos em relação à guerra, estavam sendo incitados a um dos cíclicos frenesis de patriotismo. Como que para se harmonizar com a atitude geral, as bombas-foguetes matavam mais gente do que de costume. Uma caiu em Stepney, num cinema cheio, sepultando várias centenas de vítimas nas ruinas. Toda a população da vizinhança saiu à rua, para um longuíssimo cortejo fúnebre, que durou horas e foi, na verdade, um comício de indignação. Outra bomba caiu sobre um terreno baldio usado como parque infantil, e fez picadinho de várias dezenas de crianças. Houve outras demonstrações de raiva, Goldstein foi queimado em efígie, centenas de cartazes do soldado eurasiano foram rasgados e jogados nas fogueiras, e uma porção de lojas foram pilhadas, na confusão; correu então um boato de que os espiões estavam dirigindo as bombasfoguete por meio de ondas de rádio, e um velho casal, suspeito de ser de origem estrangeira, teve a casa incendiada e morreu sufocado.
No quarto em cima da loja do Sr. Charrington, quando conseguiam ir lá, Júlia e Winston ficavam deitados, lado a lado, na cama debaixo da janela, nus por causa do calor. O rato não voltara mais, porém os percevejos se haviam multiplicado nefandamente. Não lhes parecia importar. Sujo ou limpo, o quarto era o paraíso. Assim que chegavam, polvilhavam tudo com pimenta comprada no mercado negro, tiravam a roupa e faziam o amor com o corpo suado, adormeciam e despertavam para verificar que os percevejos haviam reagido e se agrupavam para o contra-ataque.
Durante o mês de junho encontraram-se quatro, cinco, seis.