Cumpre notar que a luta, na verdade, nunca se alastra além da periferia das áreas contestadas. As fronteiras da Eurásia oscilam entre a bacia do rio Congo e a margem norte do Mediterrâneo; as ilhas do Oceano índico e do Pacífico são constantemente capturadas e recapturadas pela Oceania ou pela Lestásia; na Mongólia a linha divisória entre Eurásia e Lestásia não é estável; em torno do Polo as três potências reclamam enormes territórios em grande parte desabitados e inexplorados; mas o equilíbrio de forças mantém-se sempre na mesma, e permanece inviolado o território que forma o núcleo de cada super-estado. Além disso, o trabalho dos povos explorados que vivem no Equador não é realmente necessário para a economia do mundo. Nada acrescentam à riqueza da terra, desde que só produzem para finalidades bélicas, sendo o propósito de fazer guerra estar sempre em melhor posição para fazer outra guerra. O trabalho escravo permite a aceleração do ritmo guerreiro. Se não existisse, a estrutura da sociedade mundial, e o processo pelo qual se mantém, não mudaria essencialmente.
O objetivo primário da guerra moderna (segundo os princípios do duplipensar, essa meta é simultaneamente reconhecida e não reconhecida pelos cérebros orientadores do Partido Interno) é usar os produtos da máquina sem elevar o padrão de vida geral. Desde o fim do século dezanove, foi latente na sociedade industrial o problema de dar fim ao excesso de artigos de consumo. Atualmente, que poucos seres humanos têm bastante para comer, esse problema evidentemente não urge, e assim poderia vir a ser, mesmo sem a intervenção de um processo destruidor artificial. O mundo de hoje é um planeta nu, faminto e dilapidado, em comparação com o que existia antes de 1914, e ainda mais se comparado com o futuro imaginário aguardado pelos seus habitantes daquela era.