A eficiência não mais é necessária, nem mesmo a eficiência militar. Nada é eficiente na Oceania, exceto a Polícia do Pensamento. Já que cada um dos super-estados é invencível, cada qual é, com efeito, um universo separado dentro do qual se pode praticar sem risco qualquer perversão mental. A realidade só exerce a sua pressão através das necessidades da vida cotidiana - comer e beber, morar e vestir, evitar engolir veneno, cair de janelas do último andar, e coisas semelhantes. Entre a vida e a morte, e entre o prazer físico e a dor física, ainda há uma distinção, mas é só. Sem contacto com o mundo externo e com o passado, o cidadão da Oceania é como um homem no espaço interestelar, que não tem meios de saber que direção leva para baixo ou para cima. Os governantes desse estado são absolutos como os faraós e os césares não puderam ser. São obrigados a evitar que os seus correligionários morram de fome em quantidades tais que se tornem inconvenientes, e são forçados a permanecer no mesmo baixo nível de técnica militar que os seus rivais; uma vez atingido esse mínimo, porém, podem torcer a realidade e dar-lhe a forma que lhes aprouver.
A julgar pelos padrões das guerras passadas, a guerra de hoje é, portanto, uma impostura. É como os combates entre certos ruminantes, cujos chifres são dispostos em ângulo tal que não podem ferir um ao outro. Entretanto, apesar de irreal, ela tem sentido. Devora os excedentes dos artigos de consumo, e ajuda a conservar a atmosfera mental especial que uma sociedade hierárquica exige. A guerra, como veremos, é agora assunto puramente interno. No passado, os grupos dominantes de todos os países, não obstante pudessem reconhecer seu interesse comum e, em consequência, limitassem o poder destruidor da guerra, de fato combatiam, e o vencedor sempre saqueava o vencido.