Também no passado, a guerra era um dos instrumentos pelo qual as sociedades humanas se mantinham em contacto com a realidade física. Todos os governantes de todas as épocas têm tentado impor aos seus adeptos uma falsa visão do mundo, mas não podiam se dar ao luxo de encorajar nenhuma ilusão que tendesse a prejudicar a eficiência militar. Considerando que a derrota significava a perda de independência, ou outro resultado geralmente julgado indesejável, era preciso tomar sérias precauções contra a derrota. Não se podia ignorar os fatos físicos. Na filosofia, religião, ética, ou política, dois e dois podem ser cinco, mas quando se desenha um canhão ou um' aeroplano, somam quatro. As nações ineficientes eram vencidas, mais cedo ou mais tarde, e a luta pela eficiência era inimiga das ilusões. Além do mais, para ser eficiente, era necessário saber aprender do passado, o que exigia conhecimento bastante exato do que sucedera nesse passado. Naturalmente, os jornais e livros sempre foram parciais, e coloridos por diversos pontos de vista, mas seria impossível a falsificação da espécie e na escala hoje praticada. A guerra era uma firme salvaguarda de saúde mental e, no que se referia às classes dominantes, provavelmente a mais importante de todas as salvaguardas. Enquanto era possível perder ou ganhar guerras, nenhuma classe dominante podia ser completamente irresponsável.
Mas quando a guerra se torna literalmente contínua, cessa também de ser perigosa. Quando a guerra é contínua, não existe necessidade militar. O progresso técnico pode cessar e os fatos mais palpáveis podem ser negados ou desprezados. Como vimos, as pesquisas que poderiam ser chamadas científicas são ainda levadas a cabo, com finalidades bélicas, mas são, em essência, um sonho vão, e não importa que não deem o menor resultado.