O'Brien aproximou a gaiola. Estava a menos de um metro do rosto de Winston.
- Apertei a primeira alavanca - disse O'Brien. - Compreendes a construção desta gaiola. A máscara adapta-se à tua cabeça, sem deixar saída. Quando eu apertar esta outra alavanca, a porta da gaiola correrá. Os monstros famintos saltarão por ela como balas. Já viste um rato pular no ar? Pularão sobre teu rosto e começarão a devorá-lo. Às vezes, atacam primeiro os olhos. Às vezes abrem caminho pelas bochechas e devoram a língua.
A gaiola estava mais próxima; cada vez mais. Winston ouviu uma série de guinchos agudos que pareciam vir de cima, sobre sua cabeça. Mas lutou furiosamente contra o pânico. Pensar, pensar, mesmo que lhe restasse uma fração de segundo - pensar era a única esperança. De repente o fedor a mofo dos brutos atingiu-lhe as narinas.
Dentro dele houve uma violenta convulsão de náusea, e quase perdeu os sentidos. Tudo enegrecera. Por um instante, sentiu-se louco, um animal a gritar. Entretanto, saiu das trevas trazendo uma ideia. Só havia um, um único meio de se salvar. Precisava colocar outro ser humano, interpor o corpo de outro ser humano diante da gaiola.
O círculo da máscara era suficientemente grande para tapar a visão de tudo mais. A porta de arame estava a alguns palmos do seu rosto. Os ratos sabiam o que ia acontecer. Um deles dava pulos no ar, e o outro, um escamoso veterano dos esgotos, levantou-se, com as patas rosadas nas grades, fungando ferozmente. Winston pôde ver os bigodes e os dentes amarelos. De novo o pânico negro o possuiu. Estava cego, indefeso, insano.
- Um castigo comum na China imperial - disse O'Brien, mais pedagogicamente do que nunca.
A máscara aproximava-se.