O arame tocou-lhe o rosto. E então... não, não era alívio, apenas esperança, um minúsculo fragmento de esperança. Tarde demais, tarde demais talvez. Mas compreendera de repente que no mundo inteiro só havia uma pessoa a quem transferir seu castigo -um corpo que podia colocar diante dos ratos. E pôs-se a berrar freneticamente, repetidamente:
- Faz isso com Júlia! Faz com Júlia! Comigo não! Júlia! Não me importa o que faças a ela. Arranca-lhe a cara, desnuda-lhe os ossos. Não comigo! Com Júlia! Comigo não!
Estava a cair para trás, vertiginosamente, afastando-se dos ratos. Ainda estava amarrado à cadeira, mas caíra através do soalho, através das paredes do edifício, através da terra, dos oceanos, da atmosfera, do espaço exterior, no vácuo entre as estrelas - sempre longe, longe, longe dos ratos. Estava a uma distância de anos-luz, porém O'Brien continuava de pé ao seu lado. Sentia ainda na face o toque frio do arame. Mas dentro da escuridão que o envolvera ouviu outro estalido metálico, e soube que a porta da gaiola se fechara, não se abrira.