Mas - embora este crime fosse invariavelmente confessado pelos acusados, nos grandes expurgos -era difícil imaginar que acontecesse.
O objetivo do Partido- não era simplesmente impedir que homens e mulheres criassem lealdades difíceis de controlar. Seu propósito real, não declarado, era roubar todo o prazer ao ato sexual. Não tanto o amor como o erotismo era o inimigo, tanto dentro como fora do casamento. Todos os casamentos entre membros do Partido tinham de ser aprovados por um comité nomeado para esse fim e - embora o princípio jamais fosse claramente declarado - a permissão era sempre recusada se o casal desse a impressão de haver qualquer atração física. O único fim reconhecido do casamento era procriar filhos para o serviço do Partido. A cópula devia ser considerada uma pequena operação ligeiramente repugnante, como um clister. Isto tampouco era dito em voz alta, mas de modo indireto era ensinado a cada membro do Partido, desde a infância. Havia até organizações como a Liga Juvenil Anti-Sexo, que advogava completo celibato para ambos os sexos. Todas as crianças deveriam nascer por inseminação artificial (insemart) e educadas em instituições públicas. Isto, Winston sabia, não era para se levar de todo a sério, mas de certo modo se encaixava na ideologia geral do Partido. O Partido estava procurando matar o instinto sexual, ou, se não fosse possível matá-lo, torcê-lo e torná-lo indecente. Ele não sabia o porque dessa conduta, mas assim era, e lhe parecia natural que assim fosse. E, no que se referia às mulheres, os esforços do Partido haviam logrado considerável êxito.
Ele tornou a pensar em Katharine. Devia fazer nove, dez - quase onze anos que se haviam separado.