Do céu chegava-nos um raio de sol fino como uma lâmina de faca; os caniços lançavam-se para a luz a mais de seis metros acima das nossas cabeças. Ignoro que criaturas escolheram estas espessuras para habitat, mas por várias vezes ouvimos mergulhar grandes e pesados animais perto de nós. Pelo barulho, Lorde John identificou-os como rebanhos selvagens. Esgotados por um dia tão interminável como estafante, instalámos o nosso acampamento assim que alcançámos a orla dos bambus.
De manhã muito cedo levantámo-nos: mais uma vez o aspecto da região não era o mesmo. Atrás de nós erguia-se o muro de bambus, tão perfeitamente delimitado como se indicasse o curso de um rio. A nossa frente havia uma planície aberta que subia suavemente, salpicada de fetos arborescentes: formava uma curva que desembocava numa crista comprida com a forma de dorso de baleia. Alcançámo-la ao meio-dia, e descobrimos que se estendia para além dela um vale pouco profundo, que se elevava de novo em encosta suave para um horizonte baixo, arredondado. Foi aí que aconteceu um incidente, importante ou não, não sei dizê-lo.
O Professor Challenger caminhava à frente com os dois índios da região, quando se deteve bruscamente e, muito excitado, designou-nos um ponto à direita. Avistámos então, a pouco mais ou menos mil e quinhentos metros, algo que nos pareceu ser um grande pássaro cinzento que partia pesadamente do solo e que trepava lentamente nos ares, perdendo-se por fim no meio dos fetos arborescentes.