O Mundo Perdido - Cap. 10: Capítulo 10 Pág. 126 / 286

Conservo a visão súbita de um pescoço comprido, como o de uma serpente, de um olhar glutão, vermelho e feroz, e de um grande bico que estralejava e que deixava aperceber, ó espanto, pequenos dentes cintilantes de brancura. Um segundo mais tarde este fenómeno havia desaparecido... assim como o nosso jantar. Uma sombra negra e espessa, a oito ou dez metros, planava nos ares; asas n:onstruosas dissimularam as estrelas e depois desapareceram por cima do escarpamento. Quanto a nós, tínhamos ficado estupidamente sentados em redor da fogueira, atingidos, esmagados pela surpresa, tal como os heróis de Virgílio quando as Harpias desceram entre eles. Summerlee foi o primeiro a quebrar o silêncio.

- Professor Challenger - disse com uma voz grave que estremecia de emoção - devo-lhe desculpas! Senhor, enganei-me redondamente e agradeço-lhe que esqueça o passado.

Era bem dito; pela primeira vez os dois homens apertaram a mão. Tínhamos encontrado o nosso primeiro pterodáctilo e isso valia bem uma refeição roubada!

Mas se a vida pré-histórica subsistia no planalto, não era por certo superabundante, porque durante os três dias seguintes não descortinámos o menor sinal dela. Atravessámos, no entanto, uma região estéril e bem defendida por um deserto de pedras e pântanos desolados, ricos em caça de água, a norte e a leste dos escarpamentos inacessíveis nesta face. Não fosse uma cornija sólida que corria na própria base do precipício, teríamos de voltar para trás. Por mais de uma vez vimo-nos atascados até à cintura no lodo espesso de um pântano semitropical Para complicar as coisas este local parecia merecer a predilecção das serpentes jararaca, que são as mais venenosas e as mais agressivas da América do Sul.





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