Ele, desde essa hora funesta, pensou em matar o José dias; mas, nas ricas protuberâncias ósseas do seu grande crânio, a bossa do homicídio era muito rudimentar. Tinha tido várias ocasiões de poder-se gabar dessa perfeição. Tinham-lhe batido dois estudantes num pinhal, por causa das denúncias ao padre-mestre roque; e, quando o cão do dias lhe rasgou a calça num sítio melindroso, o Zeferino desconfiou que, se fosse capaz de matar um homem, deveria ter atirado com o machado à cabeça do caçador. Ele queria espezinhar o cadáver de José dias, espostejá-lo, trincá-lo, mascá-lo, esmoê-lo, devorá-lo, mas à maneira dos devoristas incólumes que compram um porco já morto na ribeira velha, e o esquartejam com um grande regozijo antropófago, com as mãos ensopadas nas banhas da vítima.
O pedreiro denunciante ia contando em segredo a toda a gente a descoberta que fizera naquela noite em que se enganara com o luar. A marta estava desacreditada na freguesia; as mulheres que sachavam os milharais faziam comentários perpétuos ao texto do pedreiro, recordavam as façanhas da Genoveva, contadas pelas velhas, e as mais antigas diziam que a Brígida galinheira, avó da marta, já tinha dado o exemplo à filha. - uma geração de marafonas do alto, dizia a tia rosa de carude, cuspindo no chão, e pondo a soca em cima. Riam-se do Zeferino, que andava como a cobra que perdeu a peçonha, muito escamado; que lhe tinham saído dois casamentos com boas lavradeiras, e ele diz que havia de ir morrer solteiro às pedras negras, depois da matar um homem; e houve quem afirmasse que o vira com um bacamarte, debaixo dos carvalhos, por essa noite fora, em frente da casa do Simeão.