Procurar livros:
    Procurar
Procurar livro na nossa biblioteca
 
 
Procurar autor
   
Procura por autor
 
marcador
  • Sem marcador definido
Marcador
 
 
 

Capítulo 14: CAPÍTULO XIII

Página 125
É o mais que se pode dizer sem escandalizar ninguém. Conhecia-lhe o leito.

Mas o Zeferino é que sentiu em cheio no peito amante a facada do escândalo. O oficial viu-o sentar-se sobre uma padieira que estava esquadriando, e, com o rosto entre as mãos, desfazer-se em choro. Ele tinha amado aquela rapariga desde que a vira aos treze anos. Trabalhara e roubara como galego para a poder comprar ao pai por um conto e quinhentos e pico. Meteu-se na política; fez-se sargento-mor a ver se se levantava a uma altura em que a marta o achasse digno dela e superior ao estudante. Desabadas as esperanças com a prisão do patife de calvos, pensava ainda em voltar de novo ao campo quando viesse o D. Miguel autêntico, porque o tenente-coronel de quadros lhe dizia que el-rei chegava a Portugal na primavera do ano seguinte - Afirmava-lho o padre rocha, para o consolar juntamente com as bebedeiras quotidianas. Tudo acabado, perdido, como se lhe morresse a Eva do seu paraíso! E por isso o pedreiro chorava como os grandes poetas traídos, como camões, como Tasso, como Alfredo de Musset. As lágrimas na cara tostada daquele operário tinham o travo das que a poesia cristalizou no panteão dos mártires do amor.

Depois, levantou-se, limpou as faces à manga da camisa, pegou da esquadria e continuou a trabalhar, assobiando a música triste de uma cantiga desse tempo:

Ó mar, se queres,

Tem dó de mim.

Estes assobios eram o silvo da serpente da vingança; mas o seu rancor não punha a pontaria em marta. Se deixava de cinzelar a pedra, e fitava os olhos extáticos num imenso vácuo, via passar lucilante a imagem da pequena, pura, angelical como a vira aos treze anos. Um grande romântico - uma explosão de ideias que florejavam daquele pedreiro como um canteiro de boninas nos musgos de um penhascal.

<< Página Anterior

pág. 125 (Capítulo 14)

Página Seguinte >>

Capa do livro A Brazileira de Prazins
Páginas: 202
Página atual: 125

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
INTRODUÇÃO 1
CAPÍTULO I 9
CAPÍTULO II 15
CAPÍTULO III 21
CAPÍTULO IV 32
CAPÍTULO V 46
CAPÍTULO VI 52
CAPÍTULO VII 59
CAPÍTULO VIII 67
CAPÍTULO IX 74
CAPÍTULO X 84
CAPÍTULO XI 101
CAPÍTULO XII 113
CAPÍTULO XIII 121
CAPÍTULO XIV 130
CAPÍTULO XV 141
CAPÍTULO XVI 157
CAPÍTULO XVII 166
CAPÍTULO XVIII 173
CAPÍTULO XIX 182
CAPÍTULO XX 190
CONCLUSÃO 196