Uma calúnia.
Avisaram a mãe do José dias da espera do pedreiro, e ela fez dormir o filho numa trapeira que não tinha janela por onde saltasse, e fechava-o de noite por fora, rogando pragas à seresma de Prazins: - que um raio a partisse e o diabo a levasse para as profundas do abismo! Depois ia rezar a coroa com os criados, e rogava a deus pelos que andavam sobre as águas do mar e pelas almas de todos os seus parentes e vizinhos, com uma intonação chorada que fazia devoção.
O José dias vivia amargurado. Tinha sido criado num grande respeito aos pais, e sentia-se inábil para lhes reagir. A doença de peito que começara a desvigorizar-lhe o como, implicava - lhe com a atonia da alma. Sentia o egoísmo indolente dos enfermos minados pela consumpção lenta. Invejava a robustez do irmão, um trabalhador forte que dormia dez horas, e ao romper da aurora ia lavar a cara ao tanque e pensar o gado com uma grande alegria, de assobios remedando as requintas das chulas. Passava muitas horas com o seu confidente, o padre Osório. Pedia-lhe conselhos - que arranjasse modo de ele poder casar com a marta.
- Que eu - dizia com desalento - não vou longe; mas queria remediar o mal que fiz. A marta escrevia-lhe para Caldelas, porque a tia maria de Vilalva, uma vez que lá viu um garoto com carta para o filho, deu sobre ele com um engaço, que por pouco o não apanha pela cabeça com os dentes do instrumento. As cartas eram desconfianças, receio do abandono, lágrimas. O pai não a mortificava. Pelo contrário, dizia-lhe a miúdo:
- Se o zé de Vilalva não casar contigo, talvez seja a tua fortuna, porque pode ser que o teu tio adregue de gostar de ti, e mais mês menos mês ele rebenta por essa porta dentro rico como um porco. O brasileiro da Rita chasca, que chegou agora, diz que ele tem quatrocentos contos fortes, para riba, que não para baixo.