Apocalipse - Cap. 4: Capítulo 4 Pág. 22 / 180

As religiões de renúncia, como o budismo, o cristianismo ou a filosofia de Platão, destinam-se a aristocratas: aristocratas do espírito. Os aristocratas do espírito encontram a sua plenitude na realização de si próprios e no acto de servir. Servir o pobre. Pois muito bem. Mas o pobre, a quem vai ele servir? O grande problema é este. E João de Patmos dá-lhe uma resposta. O pobre serve-se a si mesmo e trata da sua autoglorificação. E por pobre não entendemos o simples indigente; entendemos as almas só colectivas e terrivelmente «medíocres» que não possuem a singularidade e a solidão aristocráticas.

A grande massa tem destas almas medíocres. Sem a individualidade aristocrática que Cristo, Buda ou Platão exigem. E por isso elas se ocultam numa massa e secreta mente se empenham na sua própria e derradeira autoglorificação. Os patmosistas!

O homem só pode ser cristão, budista ou platónico quando solitário. As estátuas de Cristo e de Buda testemunham-no. Se o homem estiver com outros homens, surgem de imediato distinções e estabelecem-se níveis. Mal está ao pé de outros homens, Jesus é um aristocrata, um senhor. E Buda é sempre o Senhor Buda. Ao tentar ser tão humilde Francisco de Assis encontra, na verdade, uma forma subtil de poder absoluto sobre os seus seguidores. Shelley não suportava ser o aristocrata do seu grupo. Lenine era um tirano com roupa coçada.





Os capítulos deste livro