A Ilha Misteriosa - Cap. 21: CAPÍTULO III Pág. 135 / 186

É que todos aqueles acontecimentos estranhos e inexplicáveis dos últimos dois anos haviam sido sempre, mas sempre, favoráveis aos colonos! O engenheiro falou durante longo tempo, perante o silêncio de concordância dos companheiros, tão lógica foi a sua demonstração da presença de um misterioso desconhecido na ilha, talvez um náufrago como eles, mas dotado de poderes prodigiosos. Em suma, um benfeitor generoso e desinteressado, de cuja existência Cyrus fora recolhendo sucessivas provas, a começar pelo seu próprio salvamento do mar tempestuoso, quando caiu do balão! Mas havia mais: Top que escapara ileso do dugongo e este morto com um golpe no pescoço; o grão de chumbo encontrado no corpo do pecari; o caixote repleto de tudo o que eles careciam, aparecido, como por milagre, na baía dos pântanos; a mensagem dentro da garrafa, a dar-lhes conhecimento da existência de Ayrton na ilha Tabor; a fogueira no topo da ilha a servir-lhes de farol... Resumindo, tudo isso fora obra desse protector, que estranhamente não se mostrava, tudo isso culminava agora com a destruição do navio dos piratas, salvando-os uma vez mais e preservando a ilha Lincoln da sanha devastadora dos facínoras.

O engenheiro Smith tinha, igualmente, uma interpretação para o facto de o benfeitor desconhecido ter sempre conhecimento oportuno dos problemas, intenções e movimentações da colónia. Estava ele convencido de que, graças às fantásticas condições acústicas da caverna, o misterioso personagem os ouvia através do poço na arrecadação da Casa de Granito, junto do qual Top tinha por hábito rosnar.

Portanto, para Cyrus, homem culto e com um arreigado espírito científico que recusava o sobrenatural, tudo tinha uma explicação. Para ele era claro que o homem desconhecido era detentor de um poder extraordinário e de conhecimentos técnicos e científicos muito avançados para a época.





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