A Rosa do Adro - Cap. 4: CAPÍTULO 4 Pág. 16 / 202

Sentira ao longe o latir de alguns cães e uma voz alegre que cantava uma toada que ela nunca ouvira a nenhum dos pastores das suas vizinhanças.

Por certo aquela voz era a de algum desconhecido, e o desconhecido não podia ser outro senão Fernando, que a essa hora devia voltar da caça.

Este pensamento fê-la estremecer de secreta alegria e de viva ansiedade.

Alongou a vista pelo caminho donde parecia partir o som da voz, e, forcejando por penetrar as sombras em que o espaço se envolvia, esperou com angústia a chegada daquele que se lhe tornava já tão querido.

Passados poucos momentos, Rosa distinguiu um vulto que se encaminhava para o sítio em que ela estava, e reconheceu Fernando.

Subiu então de ponto a sua comoção. O corpo estremecia-lhe a cada momento, e o coração batia-lhe apressado, irrequieto; quis retirar-se para dentro de casa, para ocultar aos olhos de Fernando o segredo da sua alma, que bem claro se patenteava nas convulsões do rosto, mas não o pôde fazer; uma força oculta parecia retê-la naquele lugar.

Abandonou-se então ao acaso; esforçou-se por dominar as palpitações do coração, compôs-se um ar de indiferença e esperou.

Fernando, passados alguns minutos, acercou-se dela e, com um malicioso sorriso de esperançado triunfo, exclamou:

- Boas-noites, minha Rosa.

- Boas-noites, Sr. Fernandinho - respondeu, com a voz mal segura.

- Esperavas há muito por mim, não é verdade? - continuou o rapaz, sem intenção.

Esta pergunta, que noutra qualquer ocasião não teria produzido na travessa rapariga o menor efeito, naquela, quase a deixou muda de espanto, por ver que o segredo mais íntimo do seu coração fora decerto adivinhado.

Pois que queriam dizer aquelas palavras, senão que ela, esperando por Fernando, lhe dava nisso já a primeira prova de interesse e quem sabe se de amor?

Esta simples reflexão, que como uma sombra lhe passou rápida pela mente, teve-a, por um momento, quase traída.





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