A Rosa do Adro - Cap. 9: CAPÍTULO 9 Pág. 76 / 202

O rapaz não anda enfeitiçado, não; o que aquilo é sei-o eu...

- Ó tia Zefa - retorquiu a terceira que falara - , pois não acreditará que há gente a quem o Demo dá poder para fazer mal?... É a primeira que ouço! Ora diga-me: lembra-se do caso do Zé Mirão lá de baixo da Lagoa?... Viu como ele era um jovem fero e alentado, e como morreu sequinho como umas tristes palhas?... E vosmecê sabe verdadeiramente do que ele morreu?

- Ora do que havia de ser? - respondeu Josefa. - Da doença que Deus Nosso Senhor lhe deu, ora aí está...

- Pois está muito enganadinha a esse respeito - atalhou a crédula Antónia. - O Zé Mirão morreu mas foi de uma grande feitiçaria que lhe fizeram. E sabe porque digo isto? É porque, depois da sua morte, fomos encontrar sobre o telhado da sua casa um boneco de pano, todo cheio de alfinetes, e com um maior, salvo seja, espetado no coração; e o pobre mocinho do mais que se queixava era de pontadas por todo o corpo, principalmente no coração.

- Lá isso é verdade - acrescentou Joaquina - ; o Zé Mirão não se queixava de outra coisa senão de pontadas pelo corpo. E ainda outro caso: a Teresa do Tomé, se não fosse o darem-lhe no quintal com aquela panela velha cheia de sapos com os olhos cosidos, onde estaria ela a estas horas?

- E o Joaquim? - aventurou outra mulher que até aí se conservara calada. Aquela maçã que lhe deram num serão? Tinham de ver como ela estava, passados três dias! Ah! mas eu também fui finória... O rapaz trouxe aquilo uma noite, de volta de um serão, e o demo da maçã estava mesmo a apetecer ferrarem-se-lhe os dentes: era vermelhinha e sã que metia cobiça...

Eu, porém, desconfiei do negócio e disse ao meu Joaquim que não a comesse e que ma desse. Meti-a num a gaveta e, passados três dias, vou vê-la e encontro-a negra e com uma guedelha que metia medo.





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