- Tudo pode ser - atalhou uma das mulheres - ,mas eu também tenho cá as minhas dúvidas: outro dia estive a falar com um dos rapazes do padre Francisco e ele disse-me que o António saía todas as noites, sem ninguém saber, por volta das onze e meia e que não voltava senão quase de madrugada. Uma noite, disse-me ele, quis ir ver para onde ele ia, seguiu-o por algum tempo, mas, de repente, num a encruzilhada desapareceu e nunca mais lhe pôs a vista em cima; quando depois voltava para casa, diz que vira passar a correr por ao pé dele uma coisa negra muito grande, que lhe parecera um burro novo. Ora quem me diz a mim que era o pobre do António, que andará a correr fado e sai todas as noites para se transformar em lobisomem?
- Se assim é, seria uma obra de caridade quebrar-lhe esse fado: era espreitar uma noite onde ele largava a roupa, levar-lha e metê-la dentro de um forno, atrancar bem as portas da casa para ele não as arrombar e esperarem-no num a encruzilhada três ou quatro rapazes resolutos e fazerem-lhe sangue em qualquer parte do corpo: assim quebrar-lhe-iam o fado, e o mocinho ficaria bom.