O veríssimo foi admitido aos camarins, onde estavam sentados, em caixas de milho e na salgadeira, os figurantes à espera da sua vez, já vestidos. Viam-se os personagens do entremez. Matilde, amante de Alménio, uma ingénua, a protagonista da peça, a doente namorada, que levou o pai a trazer-lhe a casa o amante, o médico fingido. Este papel fora confiado a um latagão oficial de carpinteiro, com os pulsos cabeludos e os nós dos dedos com umas protuberâncias calosas que pareciam castanhas piladas antigas. Nas maçãs do rosto mascarrara duas zonas de carmim, que pareciam a distância umas chagas de mendigo de romaria aperfeiçoadas. Trajava um vestido de cetim branco da fidalga velha de rio caldo, feito em 1824 para um baile que houve em braga aos anos de D. João vi. O peito chato do carpinteiro ficava à altura dos quadris da fidalga, e as clavículas espipavam as ombreiras do corpete, prendendo os movimentos ao desgraçado Matilde. Posto que a cena fosse a casa de Astolfo, pai da doente fingida, a velhaca estava de chapéu de palhinha com enorme telha enconchada e plumas brancas muito amarelecidas do mofo. O vestido era-lhe curto, mas lucravam com isso as pernas, que se deixavam ver até acima do jarrete, cingidas de fitas cruzadas que subiam de uns sapatos de duraque sem tacões, feitos de propósito e em concordância com os ângulos reentrantes e salientes dos pés.