Era o grotesco do horror. A criada de Matilde, a laberca, também vestia de cetim azul-ferrete, um pouco menos antigo, empréstimo das senhoras de S. Crau, que o assoalhavam de vez em quando para os entremezes. Não tinha chapéu nem sapatos de duraque: obedecia mais à caracterização natural. Na cabeça usava touca de folhos com laços de fita escarlate e nos pés os butes do amo com ponteira de verniz; ele era o criado do juiz de direito substituto; gozava créditos de representar papéis de lacaia fazendo rebentar a gente.
O veríssimo fez os seus cumprimentos às duas damas, e manteve uma seriedade verdadeiramente real. O Alménio era o filho do estalajadeiro da póvoa de Lanhoso, o relhas. Calças brancas, quinzena de veludilho, bengala de castão de prata, chapéu branco de castor e óculos. Disse ao veríssimo que punha os óculos para fingir de médico. Estava a um canto o galego, o Gonçalo, aguadeiro da casa. Como não havia em calvos o costume rigoroso dos aguadeiros, o trolha ensaiador vestiu-o de almocreve, com as botas refegadas, faixa branca e em mangas de camisa, com uma monteira comprada em Tui. A cara era ao próprio, de uma verdade típica. O pantufo, um saloio rico que queria casar com Matilde, e foi bigodeado pelo fingido médico, vestia a melhor andaina de fato do presidente da câmara, um apaixonado pelos entremezes, que a gravidade idas suas funções impedia de representar; mas emprestava a roupa e a inteligência dramatológica. Havia mais duas figuras, o falsete, e o Astolfo, que se estavam vestindo lá dentro, por detrás de um ripado, que os deixava ver em camisa enfiando as pernas sujas nas pantalonas, enquanto o trolha lhes rebocava de vermelhão as caras.
O nunes atravessara a eira, e endireitara para o palheiro, quando lhe disse o Gonçalves que estava lá dentro um fidalgo de longe.