Outro abraço, e viva el-rei!
Lágrimas jubilosas, como contas de vidro sujas, tremeluziam nas pálpebras inflamadas do abade.
- Jante comigo, nunes, jante comigo! Vai-se abrir uma de 1815, à saúde de el-rei!
- Parece que me estoira a pele! Não estou em mim! - que ia ver a mulher e que voltava já.
Na noite de sábado para domingo de carnaval, o veríssimo pernoitou na póvoa de Lanhoso, na estalagem do relhas.
Disse ao estalajadeiro que era de longe e andava a viajar pela província. Perguntou se por ali não se festejava o entrudo. O bodegueiro informou que na póvoa havia guerra de laranjadas e às vezes pancadaria de senhor deus misericórdia; mas que na freguesia de calvos havia comédias nos três dias de entrudo, por sinal que o seu filho, um barbado que ali estava, com uma cara angulosa muito alvar, fazia de namorado no médico fingido, um entremez, coisa rica, que era de um homem malhar de costas naquele chão a rir - que se ele quisesse ver as comédias, podia ir com o seu rapaz, que lhe arranjava lá una cadeira de casa do abade.
O cenário para a representação do médico fingido arranjou-se na eira do Gonçalves, muito espaçosa e ajeitada, porque as figuras entravam e saiam, conforme a rubrica, do palheiro que tinha três portas. O palco, barrado de ferro, ainda húmido, estava ao abrigo de cobertas de chita alinhavadas umas nas outras, retesadas nas pontas por postes de pinho que rematavam em forquilhas para receberem uns varais lançados transversalmente. Havia dois mastros de castanheiro descascados, afestoados de buxos, alecrim e camélias, coroados por bandeiras vermelhas esburacadas. Parte dos mastros tinha uma lista em ziguezague pintada a zarcão, que se ia espiralando pelo pau acima, com cercadura de cruzinhas: - era