A Origem das Espécies - Cap. 7: CAPÍTULO VI
DIFICULDADES ENFRENTADAS PELA TEORIA Pág. 193 / 524

Por fim, olhando não para qualquer momento particular no tempo mas para todas as épocas, se a minha teoria for verdadeira, têm seguramente de ter existido inúmeras variedades intermédias a conectar da maneira mais íntima todas as espécies do mesmo grupo; mas o próprio processo de selecção natural tende constantemente, como tantas vezes se observou, a exterminar as formas antecessoras e os elos intermédios. Consequentemente, os indícios da sua anterior existência só se poderiam encontrar entre vestígios fósseis, os quais são preservados, como procuraremos mostrar num capítulo posterior, num registo extremamente imperfeito e intermitente.

Sobre a origem e transições de seres orgânicos com hábitos e estrutura peculiares. - Os adversários de perspectivas semelhantes às que defendo têm perguntado como, por exemplo, um animal terrestre carnívoro se poderia ter convertido num animal de hábitos aquáticos; pois como poderia o animal no seu estado transicional ter subsistido? Seria fácil mostrar que dentro do mesmo grupo existem animais carnívoros que têm cada grau intermédio entre os hábitos genuinamente aquáticos e os estritamente terrestres; e como cada um existe através de uma luta pela vida, é evidente que cada um está bem adaptado nos seus hábitos ao lugar que ocupa na natureza. Veja-se a mustela norte-americana, que tem pés membranosos e que se assemelha a uma lontra na sua pelagem, pernas curtas e forma da cauda; durante o Verão, este animal mergulha para apanhar peixes, mas durante o longo Inverno abandona as águas geladas e preda ratos e outros animais terrestres, como fazem outras doninhas. Se se escolhesse outro exemplo e se perguntasse como um quadrúpede insectívoro poderia alguma vez ter-se convertido num morcego voador, a questão seria muito mais difícil, e eu não teria resposta.





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