A Origem das Espécies - Cap. 8: CAPÍTULO VII
INSTINTO Pág. 256 / 524

uma linhagem de gado bovino que produza sempre bois com cornos extraordinariamente longos, observando cuidadosamente quais os touros e as vacas individuais que, ao acasalarem, produzem os bois com os cornos mais compridos; e no entanto nenhum boi poderia ter propagado o seu tipo. Assim creio que sucedeu com os insectos sociais: uma ligeira modificação de estrutura ou instinto, correlacionada com a condição estéril de certos membros da comunidade, foi vantajosa para a comunidade; consequentemente, os machos e as fêmeas férteis da mesma comunidade prosperaram e transmitiram à sua prole fértil a tendência para produzir membros estéreis com a mesma modificação. Creio que este processo se repetiu até se ter produzido aquela quantidade prodigiosa de diferença entre as fêmeas férteis e estéreis da mesma espécie, que observamos em muitos insectos sociais.

Mas ainda não chegámos ao ponto culminante da dificuldade; nomeadamente, o facto de os indivíduos assexuados de diversos grupos de formigas diferirem não só das fêmeas férteis e dos machos, mas também entre si, por vezes a um grau quase incrível, dividindo-se assim em duas ou três castas. Além disso, as castas geralmente não transitam gradativamente de umas para outras, mas são perfeitamente bem definidas; tão distintas entre si como quaisquer duas espécies do mesmo género, ou antes, como quaisquer dois géneros da mesma família. Assim, na Eciton (formiga legionária), há indivíduos assexuados que são operários ou soldados, com mandíbulas e instintos extraordinariamente diferentes: na Cryptocerus só as operárias de uma casta transportam nas suas cabeças um maravilhoso género de escudo, cuja utilidade é completamente desconhecida: na Myrmecocystus mexicana, as operárias





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