A Origem das Espécies - Cap. 8: CAPÍTULO VII
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da selecção natural?

Em primeiro lugar, recorde-se que temos inumeráveis exemplos, nas nossas produções domésticas e nas que se encontram em estado de natureza, de todos os géneros de diferenças de estrutura que ficaram correlacionadas com certas idades e a um ou outro sexo. Temos diferenças correlacionadas não só com um sexo, mas com aquele único período breve em que o sistema reprodutivo está activo, como na plumagem nupcial de muitas aves e nas mandíbulas aduncas do macho do salmão. Temos inclusive diferenças ligeiras nos cornos de diferentes linhagens de gado bovino relativamente a um estado artificialmente imperfeito do sexo masculino; porquanto os bois de certas linhagens têm cornos mais longos do que os de outras linhagens, por comparação com os cornos dos touros ou vacas destas mesmas linhagens. Portanto, não vejo uma dificuldade real em qualquer carácter se ter correlacionado com a condição estéril de certos membros de comunidades de insectos: a dificuldade está em compreender como tais modificações de estrutura correlacionadas podiam ter sido lentamente acumuladas por selecção natural.

Esta dificuldade, embora pareça insuperável, é diminuída, ou, segundo creio, desaparece, quando relembramos que a selecção pode ser aplicada à família bem como ao indivíduo, e pode assim alcançar o fim desejado. Portanto, um legume saboroso é cozinhado e o indivíduo é destruído; mas o horticultor semeia as sementes da mesma casta e espera confiantemente obter quase a mesma variedade; os criadores de gado bovino querem que a carne e a gordura estejam bem misturadas; o animal foi abatido, mas o criador recorre confiantemente à mesma família. A minha confiança nos poderes da selecção é tal que não duvido de que se possa formar lentamente





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