A Origem das Espécies - Cap. 9: CAPÍTULO VIII HIBRIDISMO Pág. 295 / 524

e de não desejar nem ser capaz de produzir diferenças recônditas e funcionais no sistema reprodutivo; destas diversas considerações e factos - não penso que se possa provar a ocorrência universal da muito geral fertilidade das variedades, ou que esta forme uma distinção fundamental entre variedades e espécies. A fertilidade geral das variedades não me parece suficiente para desalojar a perspectiva que adoptei a respeito da muito geral mas não invariável esterilidade dos primeiros cruzamentos e dos híbridos, nomeadamente, de que esta não é uma dotação especial, mas depende de modificações lentamente adquiridas, mais especialmente no sistema reprodutivo das formas cruzadas.

Comparação entre os híbridos e os mistos, independentemente da sua fertilidade. - Independentemente da questão da fertilidade, pode-se comparar a prole das espécies quando cruzadas e a das variedades quando cruzadas, em diversos outros aspectos. Gärtner, cujo grande desejo era estabelecer uma fronteira nítida entre as espécies e as variedades, encontrou pouquíssimas e, ao que me parece, irrelevantes diferenças, entre a chamada «prole híbrida» das espécies e a chamada «prole mista» das variedades. E, por outro lado, concordam perfeitamente em muitíssimos aspectos importantes.

Discutirei aqui este assunto com extrema brevidade. A distinção mais importante é que, na primeira geração, os mistos são mais variáveis do que os híbridos; mas Gärtner admite que os híbridos das espécies há muito cultivadas são amiúde variáveis na primeira geração; e eu próprio vi exemplos impressionantes deste facto. Gärtner admite, além disso, que os híbridos entre espécies muito intimamente próximas são mais variáveis do que os híbridos entre espécies muito distintas; e isto mostra que a diferença no grau de variabilidade desaparece gradativamente.





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