A Origem das Espécies - Cap. 9: CAPÍTULO VIII HIBRIDISMO Pág. 296 / 524

Quando os mistos e os híbridos mais férteis se propagam por diversas gerações, uma quantidade extrema de variabilidade na sua prole é notória; mas poder-se-ia mencionar alguns casos de híbridos e de mistos que preservam longamente a uniformidade de carácter. A variabilidade, todavia, nas gerações sucessivas de mistos é, talvez, maior do que nos híbridos.

Esta maior variabilidade nos mistos do que nos híbridos não me parece de todo surpreendente. Pois os progenitores dos mistos são variedades e, sobretudo, variedades domésticas (tendo-se ensaiado pouquíssimas experiências em variedades naturais), e isto sugere na maioria dos casos que houve variabilidade recente; e, portanto, podíamos esperar que tal variabilidade frequentemente continuasse e se acrescentasse à que surge do mero acto do cruzamento. O ligeiro grau de variabilidade nos híbridos do primeiro cruzamento ou na primeira geração, em contraste com a sua extrema variabilidade nas gerações sucessivas, é um facto curioso e merece atenção. Pois é relevante para a perspectiva que adoptei, e corrobora-a, acerca da causa da variabilidade ordinária; nomeadamente, que se deve à eminente sensibilidade do sistema reprodutivo a qualquer mudança nas condições de vida, tornando-o assim frequentemente impotente ou pelo menos incapaz de realizar a sua função apropriada de produzir prole idêntica à forma antecessora. Os híbridos na primeira geração descendem de espécies (excluindo as há muito cultivadas) cujos sistemas reprodutivos não foram de modo algum afectados e não são variáveis; mas o sistema reprodutivo dos próprios híbridos é gravemente afectado e os seus descendentes são muito variáveis.

Mas regressando à nossa comparação entre os mistos e os híbridos: Gärtner afirma que os mistos são mais susceptíveis do que os híbridos a reverter para uma ou outra forma antecessora; mas isto, se for verdade, é certamente apenas uma diferença de grau.





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