A Origem das Espécies - Cap. 14: CAPÍTULO XIII
AFINIDADES MÚTUAS DOS SERES ORGÂNICOS. MORFOLOGIA. EMBRIOLOGIA. ÓRGÂOS RUDIMENTARES. Pág. 478 / 524

Os criadores seleccionam os seus cavalos, cães e pombos, para procriar, quando estão quase adultos: é-lhes indiferente que as qualidades e estruturas desejadas tenham sido adquiridas mais cedo ou mais tarde na vida, desde que o animal adulto as tenha. E os casos que acabo de mencionar, mais especialmente o dos pombos, parecem-me mostrar que as diferenças características que dão valor a cada linhagem e que foram acumuladas pela selecção humana, geralmente não apareceram pela primeira vez num período inicial da vida, e foram herdadas pela prole num correspondente período intemporão. Mas o caso do pombo-cambalhota de bico curto, que às 12 horas de idade adquirira as suas proporções adequadas, prova que esta não é a regra universal; pois aqui as diferenças características têm ou de ter aparecido num período mais incipiente do que o habitual, ou, não sendo assim, as diferenças têm de ter sido herdadas, não na idade correspondente mas numa idade mais temporã.

Apliquemos agora estes factos e os dois princípios anteriores - que mais tarde, ainda que não se tenha provado a sua verdade, pode-se mostrar a sua probabilidade até certo ponto - a espécies em estado de natureza. Tomemos um género de aves, descendentes, segundo a minha teoria, de uma espécie antecessora, e da qual as diversas novas espécies se modificaram através da selecção natural, segundo os seus diversos hábitos. Então, pelos muitos ligeiros graus sucessivos de variação que sobrevieram numa idade um tanto avançada, tendo sido herdadas numa idade correspondente, as crias das novas espécies do nosso presumível género tenderão manifestamente a assemelhar-se entre si muito mais intimamente do que os adultos, tal como vimos no caso dos pombos. Podemos alargar esta perspectiva a famílias ou mesmo a classes inteiras.





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