Os membros anteriores, por exemplo, que serviam de pernas na espécie antecessora, podem, através de um longo percurso de modificações, adaptar-se num descendente a servir como mãos, noutro como barbatanas, noutro como asas; e, segundo os dois princípios anteriores - nomeadamente da sobreveniência de cada modificação sucessiva sendo herdada numa idade correspondentemente tardia -, os membros anteriores nos embriões dos diversos descendentes da espécie antecessora continuarão a assemelhar-se intimamente entre si, pois não se terão modificado. Mas, em cada nova espécie individual, os membros anteriores embrionários diferirão bastante dos membros anteriores do animal adulto; tendo os membros no último sofrido muita modificação num período um tanto tardio da vida, tendo-se assim convertido em mãos, ou barbatanas, ou asas. Qualquer que seja a influência que o exercício ou uso prolongado, por um lado, e o desuso por outro, possa ter na modificação de um órgão, tal influência afectará principalmente o animal adulto, que alcançou a plenitude dos seus poderes de acção e tem de conseguir o seu próprio sustento; e os efeitos assim produzidos serão herdados numa idade adulta correspondente. Ao passo que a cria permanecerá imodificada, ou modificar-se-á em menor grau, pelos efeitos do uso e desuso.
Em certos casos, as sucessivas etapas de variação poderiam sobrevir, por causas que ignoramos completamente, num período muito incipiente da vida, ou cada etapa poderia ser herdada num período anterior àquele em que apareceu pela primeira vez. Num ou noutro caso (como sucede com o cambalhota de bico curto), a cria ou o embrião assemelhar-se-iam intimamente à forma antecessora adulta. Vimos que esta é a regra de desenvolvimento em determinados grupos inteiros de animais, como com as lulas e aranhas, e com alguns membros da grande classe dos insectos, como os afídeos.
